Como nossos hábitos se expressam no
trânsito?
A
nossa capacidade de julgar e decidir tem um papel fundamental na nossa vida,
pois, assim, definimos conscientemente como, quando e onde fazer as coisas. É
por isso que podemos realizar ou não alguma ação dependendo do quanto estamos
dispostos a realizá-la. Nossos comportamentos podem ser explicados, portanto,
pela intenção que possuímos em relação a alguém ou a alguma coisa específica.
Se eu digo, por exemplo, que vou levar o cachorro para passear na rua, existe
grande probabilidade de isso acontecer, afinal, tenho cachorro, coleira e
gasolina no carro.
Porém,
a intenção pode explicar somente uma parcela dos nossos comportamentos. Em
muitas situações, existe uma distância grande entre nossa vontade de fazer e o
que fazemos de fato. Isto quer dizer que nossas intenções nem sempre guiarão o
comportamento. Por exemplo, a motivação de ir a pé para o trabalho, em vez de
ir de motocicleta, nem sempre se concretizará na prática, mesmo que o trabalho
seja pertinho de casa e que não esteja chovendo. Outro exemplo é quando
planejamos usar o cinto de segurança no banco de trás, que nem sempre se
realizará, mesmo que ele esteja acessível e que saibamos que não usá-lo é uma
infração de trânsito.
Em
algumas situações, portanto, parece haver algo em nós capaz de nos manter
presos a determinados padrões de conduta; algo que faz nossos comportamentos
permanecerem fixos, repetidos ao longo do tempo. Além disso, esse algo parece
impedir qualquer mudança concreta, apesar das nossas melhores intenções de
mudar. Quem nunca disse ou ouviu as expressões: “não tive a intenção”, “foi sem
querer” ou “ops! fiz de novo!”, em tom de arrependimento por não conseguir
parar de repetir um comportamento? Mas que algo é esse?
O
hábito pode ser uma resposta. Hábito é um comportamento que, por ter sido
repetido muitas vezes ao longo do tempo, se tornou “automático”. Não no sentido
tecnológico, como se fôssemos robôs. Na psicologia, um comportamento é
automático quando é realizado sem consciência completa, controle total ou mesmo
sem intenção de realizá-lo.
É
importante ressaltar que o hábito, em si, não é nem bom, nem ruim por natureza,
mas podemos desenvolver hábitos saudáveis ou não saudáveis, seguros ou
inseguros. Desenvolver o hábito de usar o cinto de segurança é algo bom,
desejável. O hábito de andar em alta velocidade é algo que não deve ser
estimulado. Em tempos de poluição e congestionamento, andar a pé ou de
bicicleta pode ser um hábito a ser estimulado, e o de usar o automóvel tem sido
cada vez mais desestimulado.
Identificar
e analisar nossos hábitos no trânsito pode ser uma estratégia importante, tanto
para as autoridades quanto para nós, se quisermos mudar nossos comportamentos
inseguros no trânsito ou se quisermos construir um padrão mais saudável de
deslocamento. Darmo-nos conta dos nossos hábitos, especialmente aqueles que
podem trazer prejuízos para nossa saúde, segurança, plenitude é um primeiro
passo em direção à mudança de comportamento desejada.

